Petróleo venezuelano “fantasiado” de brasileiro: o novo caminho para a China

Navio petroleiro com bandeira da Venezuela atracado em porto industrial ao entardecer

Uma recente investigação da Reuters expôs um esquema engenhoso (e ilegal) que está movimentando o comércio internacional de petróleo: comerciantes estão reclassificando petróleo venezuelano como se fosse brasileiro para burlar as sanções impostas pelos Estados Unidos. O destino principal? As refinarias independentes da China.

Como funciona o esquema

Desde julho de 2024, mais de US$ 1 bilhão em carregamentos de petróleo do tipo Merey, oriundo da Venezuela, foram exportados como se fossem “bitumen blend” do Brasil. Essa manobra reduz custos logísticos, evita paradas na Malásia e acelera o trajeto em cerca de quatro dias.

  • Spoofing de localização: os navios adulteram seus sinais de rastreamento para parecer que partiram de portos brasileiros;
  • Documentação falsa: certificações de origem brasileiras são usadas sem que os navios sequer passem pelo Brasil;
  • Disfarce como bitumen: o tipo de petróleo vendido é rotulado como um resíduo espesso usado em asfalto, evitando as cotas de importação de petróleo cru na China.

Os dados não mentem

A China importou 2,7 milhões de toneladas desse “bitumen blend” do Brasil entre julho de 2024 e março de 2025, segundo dados da alfândega chinesa. Isso equivale a 67 mil barris por dia e um valor de US$ 1,2 bilhão. Detalhe: o Brasil raramente exporta esse tipo de produto, segundo a própria Petrobras.

Por que isso importa

  1. Sanções e criatividade internacional: mostra como agentes do mercado contornam restrições usando artifícios sofisticados;
  2. Risco para a imagem do Brasil: usar o nome do Brasil nesse esquema pode afetar a reputação do país em relações comerciais e diplomáticas;
  3. Reforço das alianças China-Venezuela: com a China criticando sanções unilaterais e aumentando as importações da Venezuela, a parceria se intensifica.

Conclusão

Esse caso é um exemplo prático de como geopolítica, economia e logística global estão profundamente entrelaçadas. O uso indevido da imagem do Brasil em um contexto de sanções internacionais coloca o país sob um holofote delicado.

A questão que fica é: até onde vai a criatividade (ou ilegalidade) do mercado para manter o fluxo de recursos? O próximo capítulo pode envolver sanções secundárias, tensões diplomáticas ou investigações internas.

Fonte principal: Reuters, 12/05/2025

“Quando o petróleo não é transparente, o problema não é só ambiental… é geopolítico.”